Em todos os lugares do Brasil joga-se o futebol de mesa (botão,celotex, ou o nome que quiserem dar a esse esporte). Cada cidade tinha os seus praticantes, os quais estavam sempre jogando entre si. Quando muito, botonistas de um bairro visitavam outras sedes, mas sempre esporadicamente. Conheci o futebol de mesa em 1947, na casa de meu colega Marco Antonio Barão Vianna. Lá estavam diversos colegas e disputavam um torneio. Me apaixonei imediatamente pelo esporte e, daquele dia em diante, os paletós de meu avô acabavam perdendo os botões de forma misteriosa.... Na minha rua, vários eram os praticantes, e, com muita saudade recordo daquele que comigo visitava, nos domingos pela manhã, os bairros de Caxias, jogando sempre contra outros amigos e colegas. Renato Toni, que hoje joga com Decourt, Della Torre, Morgado e tantos outros, no Plano Superior.Para nós o futebol de mesa ou de botões, resumia-se àquele pequeno universo. Mas, um dia, o milagre aconteceu. Estava passeando com as minhas filhas, e parando em uma banca de revistas, comprei o exemplar da REVISTA DO ESPORTE, cuja capa ostentava o Gerson (Canhotinha de Ouro) e o Elton (que fora jogador do Grêmio e posteriormente jogaria no Inter). Ao regressar ao lar, lendo a revista, deparei-me com uma reportagem simplesmente estranha: BAHIA DÁ LIÇÕES DE FUTEBOL DE BOTÃO. A matéria fora escrita pelo radialista OLDEMAR DÓRIA SEIXAS, e descrevia a enorme quantidade de praticantes baianos, com fotografias e citações diversas. Isso aconteceu no ano de 1965.
Como não acreditei naquilo que lia, escrevi ao Oldemar, pois o seu endereço constava no rodapé da reportagem. Com o passar dos dias, acabei esquecendo o assunto, até que em determinada manhã, pelo correio recebo um envelope enorme, com uma carta de nove laudas, explicando o futebol de mesa baiano. Junto vieram três botões: um do Grêmio, um do Vasco da Gama e o último do Ypiranga da Bahia. Um goleiro feito de madeira e diversas bolinhas, que eram botões “olho de peixe”. Anexou também, o Oldemar, algumas fotografias , nas quais viam-se pessoas de cabelos brancos praticando o esporte.
Continuamos a nos corresponder. Nós, jogando na regra gaúcha, e, eles na baiana. Em 1965, fundamos a Liga Caxiense de Futebol de Mesa. No ano seguinte, ao comemorarmos o nosso aniversário, organizamos um torneio e convidamos os botonistas de Porto Alegre, e de outras cidades praticantes, que na época eram raras ao nosso conhecimento. Resolvi então convidar o Oldemar para participar e conhecer o nosso movimento. Para minha surpresa, o convite foi aceito e Oldemar avisava que chegaria ao Rio Grande do Sul, na companhia de Ademar Dias de Carvalho. Solicitou, como uma deferência especial ,que conseguíssemos uma tábua de 2,20 x 1,60, e eles preparariam o campo. Deveríamos providenciar as traves, no tamanho exigido. Tudo foi feito.
No torneio de aniversário da Liga, o Ademar, jogando com os seus botões muito diferentes dos nossos, acabou ficando com o vice-campeonato, perdendo porque acabou fazendo um gol contra no último instante. Isso serviu para ver a qualidade do botonismo praticado na Bahia. Quando todos estavam reunidos, depois da premiação, os dois demonstraram a beleza do futebol de mesa, com times padronizados, numa mesa que foi chamada de Maracanã, pelo seu tamanho gigantesco, perto dos nossos campinhos. Outra curiosidade fantástica para nós, sulistas, foi a maneira deles impulsionarem os botões. Todos nós usávamos a palheta (ficha, batedeira) e eles simplesmente os impulsionavam com a unha. E a precisão espantosa em cada chute ao gol, em cada cavada, em lançamentos à longa distância. Ficamos maravilhados mesmo.
Depois disso, nunca mais parou o movimento e três anos depois, em Salvador (BA), quatro baianos e dois gaúchos criaram a Regra Brasileira de Futebol de Mesa. Pela Bahia, participaram ADEMAR DIAS DE CARVALHO, OLDEMAR DÓRIA SEIXAS, ROBERTO DARTANHÃ COSTA MELLO e NELSON CARVALHO, e pelo Rio Grande do Sul GILBERTO GHISI (que na ocasião era o presidente da FEDERAÇÃO RIOGRANDENSE DE FUTEBOL DE MESA) e ADAUTO CELSO SAMBAQUY, então presidente da LIGA CAXIENSE DE FUTEBOL DE MESA, a mais forte organização do estado do Rio Grande do Sul.
Depois da criação da regra brasileira e a adesão de vários estados, todos jogando da mesma forma, começaram os entendimentos para a realização do primeiro campeonato brasileiro da modalidade, que seria realizado em Salvador em janeiro de 1970.
Mas, isso é matéria para uma nova reportagem....me aguardem.....
Adauto Celso Sambaquy
Na minha primeira viagem à Bahia, contei com a companhia de Gilberto Ghisi, então presidente da federação Riograndense de Futebol de Mesa, no período de 08 a 22 de janeiro de 1967. Nesta oportunidade conheci uma gama de grandes botonistas. Joguei e aprendi a regra de um toque contra Oldemar Seixas, Ademar Carvalho, Jomar Maia, Roberto Dartanhã, Geraldo Lemus, Norival Factum, Fernando Contreiras, Armando Passos, Mariano Salmeron, Amauri Alves, Álvaro César, Cesar Costa, Dr. Elias Morgado, Luiz Raimundo, Marcio Gomes, Geraldo Holtz, Carlos Alberto Magalhães, José Mascarenhas, Milton Silva, Webber Seixas e Nelson Carvalho. Foi uma verdadeira maratona pelas diversas sedes botonistas da Bahia, Mataripe, S.Amaro da Purificação. Havia grupos que queriam pagar pela nossa apresentação, coisa que foi descartada imediatamente. Mas, em todos os lugares aproveitamos muito. Eram jantares suculentos, com comida baiana, elaborada por pessoas que cozinhavam há muito tempo. Aprendi a gostar de tudo o que encontrei por lá. A pessoa que mais me impressionava era o presidente da Liga Baiana de Futebol de Mesa, um baianinho pequeno, magrinho, chamado José de Souza Pinto. Uma pessoa que, apesar de não jogar botão, era o maior entusiasta de todos. Era sogro do Nelson Carvalho. Depois dessa passagem, o primeiro brasileiro foi sendo construído aos poucos e, em janeiro de 1970, gaúchos, cariocas, sergipanos, pernambucanos e paraibanos, misturados aos baianos, realizaram o primeiro campeonato brasileiro de futebol de mesa. Foi realizado no dia 10 e 11 de janeiro de 1970, na Sociedade Espanhola, em Salvador. O campeão foi Átila Lisa, um baiano que residia em Aracajú e que defendia a bandeira sergipana. Seu vice, também baiano e também representando Sergipe, foi José Marcelo. Na terceira colocação estiveram dois gaúchos: Jorge Compagnoni e Airton Dalla Rosa. Nesse campeonato conheci o grande radialista de Pernambuco, Ivan Lima, que pouco depois faria a cobertura do Tri Brasileiro no México, pela TV Rádio Clube de Recife. A minha campanha foi razoável, pois empatei meu primeiro jogo, com José Inácio dos Santos de Sergipe, ganhei de Marcelo Tavares , de Pernambuco, perdi em seguida, para Milton Silva, da Bahia, voltei a ganhar, dessa vez de Adelcio Albuquerque, do Rio de Janeiro. Eu estava disputando o campeonato por equipes, com a companhia de Angelo Slomp e Walmor da Silva Medeiros, representando o Rio Grande do Sul. Por equipes a Bahia ficou com o título, Pernambuco em segundo e nós com o terceiro lugar.
Na ida para Salvador, paramos no Rio de Janeiro e em Vila Isabel. Jogamos com a turma da Liga Carioca de Futebol de Botão, cujo presidente era Getúlio Reis de Faria, um antigo botonista que jogava na regra feita pelo Decourt em 1930. No Rio de Janeiro, joguei contra o Getúlio e contra o Antonio Carlos Martins, ganhando dos dois.
Com isso tudo, ficou comprovado que ninguém mais seguraria o futebol de mesa. Era só questão de tempo para se consolidar definitivamente como o esporte mais praticado no país.
O segundo brasileiro, realizado em 13 e 14 de agosto de 1971, em Recife, Pernambuco. Desta vez o palco foi o monumental ginásio Geraldo Magalhães, o Geraldão, na Avenida Imbiribeira. Nesse ano, aumentou o número de participantes. Estavam representados os estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe, Bahia, Paraiba e Pernambuco. No individual, dois baianos ficaram para a final que foi apitada por mim. Roberto Dartanhã foi o campeão ao derrotar Cesar Zama, na única falha desse, quando seu botão travou e não cobriu o lançamento , sofrendo o gol único que deu a vitória a Roberto Dartanhã Costa Mello. Em equipes, depois de acirrada disputa, a equipe de Pernambuco, liderada por Ivan Lima, derrotou os baianos, levando o caneco para sua sede. Nesse campeonato conheci Nerivaldo Lopes, o maior produtor de PPS religiosos do país. Na época, ambos éramos colegas de Banco do Brasil.
No final do evento a Prefeitura de Recife ofereceu um almoço à delegação gaúcha, com direito a variada cozinha pernambucana. Foi realmente um evento a guardar para sempre na memória.
O resto fica para mais adiante. Hoje já falei demais.
Adauto Celso Sambaquy, quase 71 anos, bancário aposentado, economista, botonista, nascido em Caxias do Sul (RS), residente em Balneário Camboriú (SC), casado, pai de cinco filhos.
Comecei a tomar conhecimento do futebol de botões em 1947, em minha cidade natal. Fui convidado por um colega de escola para um torneio de futebol de botões em sua casa. Fiquei maravilhado com o que me foi apresentado. A partir desse dia, os paletós de meu avô, sempre com lindos botões, começaram a ficar sem seus botões. Encontrei diversos colegas que jogavam. Com meu amigo Renato Toni, percorremos os diversos bairros de Caxias, jogando com outros botonistas. Foi o início de muitas amizades que perduram até essa data.
Com o tempo, passei a jogar futebol de campo e, antes de uma partida, reunidos na casa de outro craque, jogávamos botão. Para não carregar meus craques para o campo de futebol, os deixei na casa de meu amigo. Para a minha infelicidade, naquela noite, um incêndio consumiu a casa deste amigo e os meus dois times (Vasco e Corinthians), foram perdidos. Com isto, parei de jogar por um tempo.
No inicio dos anos sessenta, fui aprovado no concurso do Banco do Brasil, já jogava com um time de botões “chamados puxadores”, fabricados em Porto Alegre. Nesta época, começamos a disputar campeonatos em diversas frentes: AABB, Bancários e Caxiense. Em pouco tempo iniciamos a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, fundada em 1965. Desde então só cresceu o futebol de mesa em Caxias.
Em 1966, depois de uma reportagem na antiga Revista do Esporte, editada no Rio de Janeiro, encontrei uma reportagem com o título: “BAHIA DÁ LIÇÕES DE FUTEBOL DE BOTÕES”. Fora escrita por Oldemar Dórea Seixas. Escrevi-lhe e ele me respondeu. Em 1967, junto com o presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa, sr. Gilberto Ghisi, nos dirigimos à Salvador e com a participação de Adhemar Dias de Carvalho, Oldemar Seixas, Nelson Carvalho e Dartanhã da Costa Mello, juntamos as regras gaúcha e baiana, criando assim a Regra Brasileira de Futebol de Mesa.
Em janeiro de 1970, em Salvador/Bahia, o primeiro campeonato brasileiro foi realizado. No ano seguinte, Recife sediou o segundo, e, em 1972 foi a vez de Caxias do Sul, sediar o campeonato. Já estávamos no terceiro campeonato. Daí por diante, as disputas tem sido constantes.
Em 1973, transferido para Brusque, criamos a Associação Brusquense de Futebol de Mesa, começando seus campeonatos em 1974. Em 1981 inauguramos a nossa sede social própria, no bairro Guarany. Em 1980 realizamos o primeiro campeonato Sul-Brasileiro, e no ano seguinte, realizamos o 7° Campeonato brasileiro de futebol de mesa, nas dependências da S.E.Bandeirante.
Atuei como presidente da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, a qual dirigia os técnicos que jogavam na Regra Brasileira (muitos ainda ah chamam de regra baiana), durante os anos de 1980/1981.
Durante esse período fiz aproximação com a Federação Paulista de Futebol de Mesa, com a Federação Paranaense de Futebol de Mesa, com a Confederação Brasileira (não oficial) de Futebol de Mesa, cujo presidente João Paulo Mury, residia no Rio de Janeiro e vice presidente, José Ricardo Caldas e Almeida, residia em Brasília. Tive o prazer de conhecer pessoalmente os grandes nomes: GERALDO CARDOSO DECOURT, ANTONIO MARIA DELLA TORRE, GETULIO REIS DE FARIA, AGACYR JOSÉ EGGERS, e tantos outros fabulosos praticantes.
Uma definição para o futebol de mesa em poucas palavras: impossível. Futebol de mesa é algo muito grande para ser definido em poucas palavras. É algo que envolve as pessoas de tal maneira que acaba se tornando um vício, uma coisa necessária na vida da gente. Que faz com que, por ela, muitas outras coisas sejam relegadas ao segundo plano. Hoje eu tenho medo se ser novamente atacado por essa febre, por esse vírus gracioso, ao qual tenho de agradecer por momentos inesquecíveis de minha vida.
Meu time de coração é o Grêmio Esportivo Flamengo (atual SER Caxias do Sul). Foi com ele que consegui minhas primeiras vitórias. Meu time atual é o S.C.INTERNACIONAL, atual campeão do mundo. Em 1973, antes de ser transferido para Brusque, trabalhava comigo o Celso Tadeu Carpeggiani (Borjão), irmão do Paulo César Carpeggiani, jogador do Internacional. Eu era caixa-executivo no Banco do Brasil e atendi o Paulo César, que estava querendo falar com o Borjão. Chamei-o e fomos apresentados. Então solicitei ao Paulo César a sua camisa. No primeiro jogo em que Caxias e Internacional efetuaram, o Borjão jogava no Caxias, o Paulo César deu-me a sua camisa. Esse é um troféu que guardo com muito carinho. Desde então, em todos os meus times do Internacional, o número 10 é, e será sempre, o Carpeggiani.
A maior alegria que tive e tenho até hoje no futebol de mesa foram às amizades que consegui. É lógico que entre o trigo existem algumas plantas ruins, mas essas nós descartamos e deixamos no esquecimento.
Eu jogo na Regra Brasileira, que é uma mistura das antigas regras gaúcha e baiana. Mas já joguei na regra de 12 toques, na regra usada no Paraná, na regra usada no Rio de Janeiro.
Com muita honra, gostaria de citar alguns nomes de jogadores, que para mim, são ícones deste nosso esporte:
RIO GRANDE DO SUL: Airton Dalla Rosa, Vicente Sacco Netto, Silvio Puccinelli, Marcos Barbosa, Luiz Ernesto Pizzamiglio, Sergio Duro, Delesson Orengo, Rubem Bergmann, Raymundo Vasques, Vanderlei Duarte, Marcos Lisboa, Cláudio Saraiva,Gilberto Ghizi, Lenine Macedo de Souza e Marcos Zeni.
SANTA CATARINA: Valmir Merisio, Marcio José Jorge, Edson Appel, Roberto Zen, Edson Cavalca, Marinho Vieira, Décio Belli, SergioMoresco, Sergio Walendowsky.
PARANÁ: Agacyr José Eggers, Edmundo Barbosa, Ernesto Santos Junior, Newton Santos, Roberto Beltrami, Germano Galdindo.
SÃO PAULO: Geraldo Cardoso Decourt, Antonio Maria DellaTorre, Sergio Soto, Carlos Dellatorre, Antonio Bernardo, Ricardo A.Rosa.
RIO DE JANEIRO: Helio Nogueira, João Paulo Mury, Antonio Carlos Martins, Getúlio Reis de Faria, Luiz Antonio, Adelcio Albuquerque.
SERGIPE: José Ignácio Santos, Reginaldo, Atila Lisa.
BAHIA: Oldemar Seixas, Adhemar Dias de Carvalho, Proculo Azevedo, Cezar Zama, Webber Seixas, Milton Silva, Jomar Moura, Jomar Maia, Roberto Dartanhã Costa Mello, Fernando Contreiras,Mariano Salmeron, Amauri Alves, Álvaro César,Dr. Elias Morgado, Geraldo Holtz, Nelson Carvalho, José Ataíde, Dr. Valter Motta, Luiz Alberto Magalhães,Vital Albuquerque, Orlando Nunes, Kleber Cabral.
PERNAMBUCO: Ivan Lima, Marcelo Tavares, Antonio Pinto.
ESPIRITO SANTO: Manoel Gomes.
ALAGOAS: Uacy F.N.Costa., Washington.
PARAIBA: Manoel Nerivaldo Lopes.
RIO GRANDE DO NORTE : Wilson Marques.
MINAS GERAIS: André Carvalho Tartaglia.
BRASILIA: José Ricardo Caldas de Almeida, Sergio Netto, Antonio Carlos Caldas de Almeida.
Acredito que já dá para ter uma noção da quantidade de ícones com quem joguei.
Quem é Adauto Celso Sambaquy? Um cara comum, um cara que gosta de ajudar, um idealista, um esforçado, um batalhador. Enfim, um cara como tantos que existem por ai. Um amigo para os amigos.